
Festa da Natividade de Nossa Senhora
Se os filhos bem formados esperam com impaciência e celebram com alegria o dia do nascimento de sua querida mãe, se eles se apressam em lhe desejar felicidades e lhe oferecer algum presente, ainda que seja uma simples mas bela flor, de que sentimentos devem palpitar os corações dos filhos de Maria no dia de seu Natalício?
Como pode um filho -- digno deste nome -- não saber ou se esquecer da festa da Natividade da própria Mãe de Deus e nossa? É, pois, de suma importância recordarmos a grandeza do dia 8 de setembro (1).
Comemoração só depois de alguns séculos
Segundo os cálculos mais exatos e as tradições mais respeitáveis, Maria nasceu em Nazaré.
E sob o reinado de Herodes, quando este ímpio Príncipe tratava de aniquilar a raça real de Davi para impossibilitar o cumprimento das profecias que anunciavam que o Salvador sairia da família de Jessé.
Mas por que -- poder-se-ia perguntar -- não datam dos primeiros séculos as festas em louvor a Maria Santíssima? Estejamos certos de que não se tratou de um esquecimento por parte da Igreja.
Desde a sua fundação, a Igreja sempre devotou terna devoção para com Nossa Senhora.
As circunstâncias dos primeiros tempos da História da Cristandade não permitiam, entretanto, que tal devoção fosse manifestada. Porém, as delongas que a Igreja teve de fazer até poder celebrar publicamente tais festas é mais uma prova da sabedoria divina que a caracteriza.
Com efeito, a Igreja nasceu entre os judeus e cresceu entre os gentios.
Enquanto seus primeiros discípulos, reunidos em pequeno número em torno de um altar solitário, ofereciam seus corações ao único Deus, milhões de homens se prosternavam ante milhares de altares erigidos a milhares de divindades estranhas. Pois para os gentios tudo era deus. exceto o próprio Deus.
Qual era, então, naqueles tristes séculos, a principal missão da Igreja? Atrair os povos à unidade de Deus. Esta é a razão pela qual a Igreja não prestava à Virgem Santíssima todas as honras que Lhe eram devidas.
Pois, naquelas circunstâncias, havia o perigo de serem elas mal compreeendidas por pagãos recém-saídos da idolatria.
A Igreja secundava, agindo desse modo, os mais ardentes desejos da própria Mãe de Deus, que queria antes de tudo que apenas Seu Filho fosse adorado em espírito e em verdade, por toda a Terra.
Parecia que o próprio Deus autorizava essa conduta, pois, enquanto coroava de glória a morte e o sepulcro dos Mártires, deixava numa espécie de esquecimento a morte e a assunção de Maria, bem como as gloriosas circunstâncias de Sua vida.
Constantemente fiel a si mesmo e cheio de solicitude pelo bem de seus filhos, o Criador fizera o mesmo com Moisés, cuja morte e sepultura quis que fossem ignoradas e sem testemunhas, temendo que os israelitas, inclinados sempre à idolatria, fizessem dele uma falsa divindade.
Porém, com o decurso dos séculos, a Igreja vai desenvolvendo os meios de reanimar a piedade mariana de seus filhos.
Assim, se a festa da Natividade não se apresenta, ao menos com esplendor, desde a origem do Cristianismo, encontramos o primeiro e mais antigo documento sobre o assunto no Sacramentário de São Leão Magno (+ 461), no qual figura a festa da Natividade da Virgem Santíssima com Missa e orações próprias (Benedito XIV, vol. VIII, p. 543).
Celebrava-se ela na Igreja antes do século VII. No século IX era uma das mais solenes na França.
No Oriente, a festa da Natividade já era celebrada com pompa desde meados do século XII.
A Esposa Mística de Cristo, elevando-se à altura da fé sobre os sentimentos da natureza, não celebra o nascimento, mas a morte de Seus filhos. Consideremos quão profunda é a precisão de Sua linguagem: chama natividade ou nascimento o momento da morte de Seus santos.
Com efeito, é no dia da morte que os eleitos deixam esta vida perecível e nascem para uma vida imortal, gloriosa.
A Liturgia católica só conhece duas exceções a essa importante regra: Nossa Senhora e São João Batista. Este tem celebrada a data de seu nascimento porque veio ao mundo já santificado e confirmado em graça.
Assim, com muito mais razão, deve a Igreja celebrar a Natividade de Maria, que apareceu na Terra cheia de graça e enriquecida com todos os dons concedidos por Deus a uma criatura.
Isenta da mácula do pecado original e predestinada à Maternidade Divina, é incontestável que Maria foi a alma mais formosa saída das mãos do Criador, bem como, depois da Encarnação, a obra mais perfeita e mais digna do Onipotente neste mundo.
Não sem razão o Arcanjo São Gabriel a saudou com estas palavras: "Cheia de graças sois".
---------------------------------------------------------------------------------------
Notas:
1) Este artigo foi redigido com base nos comentários do conceituado autor francês do século passado Mons. J. Gaume, em sua obra Catecismo de Perseverancia, tomo VIII, Librería Religiosa, Barcelona, 1857. As citações que não vieram especificadas são dessa obra, com pequenas adaptações.
---------------------------------------------------------------------------------------
Por Valdis Grinsteins. (Texto integral em Catolicismo)
---------------------------------------------------------------------------------------