Na África, as mulheres idosas e respeitáveis são chamadas “nana”. Nanã Buruku é filha de Olodunare, o deus supremo, e é considerada a deusa-mãe primordial, aquela que forjou pessoalmente os invólucros carnais humanos que abrigam os espíritos e permitem que estes vivam sua aventura de consciência na Terra.
Esta deusa forja também todas as formas de vida que servem de instrumento para os diferentes estágios de consciência que se manifestam na vida terrena. Este orixá tem seu culto ligado a Obaluaiê (orixá da cura) em algumas regiões africanas, e é venerado como a deusa anciã, a portadora da sabedoria do princípio feminino que permeia o universo e da experiência dos mais velhos. Muitos atribuem sua origem ao Daomé [...Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo)...], embora seja difícil afirmar isso com segurança devido aos pesquisadores terem localizado muitos outros lugares passíveis de serem aceitos como ponto originário deste orixá.
O povo “ashanti” tem um culto à deusa primordial sob muitos aspectos, os quais denominam “Nanã Inie”. Para essa etnia, essa deusa desempenha o mesmo papel criador do deus supremo.
Nos templos dedicados à deusa primordial existem outras entidades que são extensões dela, mas existe um trono consagrado à Grande Mãe, e somente uma sacerdotisa de Nanã Inie pode tocar nele.
No resto da África, porém, os cantos dedicados a Nanã são em iorubá arcaico, o que denota a antiguidade do seu culto. Por ocasião dos festivais a ela dedicados as peregrinações se dirigem a uma região de Gana próxima à fronteira do Togo. Lá os fiéis se reúnem ao redor de uma grande árvore de “ficus vesiculosus” (odan), onde cantam e dançam ao som de tambores e agogôs. A maioria dos participantes é de “yaôs” da deusa. São mulheres idosas que se vestem com panos coloridos amarrados acima do peito, têm a testa e as têmporas pintadas com giz branco, e os braços e pescoço cobertos por colares e braceletes feitos de contas multicoloridas. Elas se apóiam em bastões, e se movimentam com lentidão, ora para a direita ora para a esquerda, dançando conforme o ritmo.
No Brasil e em Cuba Nanã é a deusa ancestral, e também a mãe de Obaluiaê. Nanã é considerada a anciã sábia e veneranda detentora da memória dos primórdios do planeta e dos valores espirituais e éticos. Este orixá é a deusa e senhora das águas paradas e lamacentas, assim como do lodo dos pântanos.
O Mito
Nanã Buruku é a deusa criadora do corpo humano. Conta uma lenda de Ifá que Nanã deve a seu cargo uma missão fundamenal. Antes de enviar os 16 orixás para realizarem na Terra a sua vontade, Olodumare, o deus supremo, chamou Oxalá e lhe deu uma sacola contendo sementes de vida. Quando a sacola da criação que Olodumare entregou a Oxalá foi aberta, Nanã estava presente e encarregou-se de semeá-las. Para tal, ela forjou a argamassa para que as formas fossem criadas. Por esta razão, ela rege a lama e o lodo, a mistura de terra e água.
Este orixá é o princípio feminino portador da força criadora e formadora do corpo físico destinado a abrigar a sabedoria ancestral de todas as espécies que vivem no planeta. Nanã, por ser sábia, é muito paciente, tolerante e constante. Simboliza a memória da criação. Reza o mito que com carinho e cuidado ela amassou terra e água com seu pilão gerador, e com os próprios pés moldou e formou os corpos humanos e também dos animais. Ela traz o poder das águas celestiais e primordiais para a Terra. Permite a manifestação do poder cósmico na natureza diversificada.
Arquétipo
Seus filhos são tranqüilos, pacientes, meigos, gentis, compreensivos, corretos e dignos de respeito. Costumam fazer suas tarefas lentamente, porém muito bem feitas. Caminham devagar, falam pausadamente e possuem grande controle sobre seus impulsos e emoções.
Suas “yaôs” adoram crianças e são excelentes educadoras. Educam com competência porque são amorosas e firmes na orientação dos seus educandos. São conselheiras cheias de sabedoria, e procuram sempre criar harmonia entre as pessoas.
Os filhos de Nanã promovem ao seu redor equilíbrio e acolhimento. São pessoas justas, calmas, tolerantes, ponderadas, doces, amorosas e muito corajosas.
No Brasil, quando incorporada, a deusa Nanã dança de forma lenta e imita os movimentos de quem soca um pilão. Esse orixá veste roupas roxas ou brancas e azuis, e tem o colo e os braços enfeitados com colares e pulseiras feitos de contas de vidro brancas e azuis ou roxas.
O dia consagrado a Nanã é o sábado, a comida que lhe é oferecida é arroz branco, inhame e às vezes a oferenda é feita com quiabos sem azeite e muito temperados. Os animais consagrados a ela são cabras e galinhas d’angola, que não podem ser abatidas com facas nem nada feito de ferro ou aço. Este orixá é sincretizado no Brasil como Sant’Ana (a avó de Jesus). A sua saudação mântrica é: Saluba Nanã!
Fonte: Blog - Mitologia Comentada
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