Iemanjá, a Deusa-Matriz da Criação
Iemanjá, cujo nome deriva de “Yèyé Omo ejá” (Mãe de todos os peixes), é a Grande Mãe do povo Egbá. Na África, os Egbá formam uma nação de idioma iorubá que vivia outrora numa região entre Ifé e Ibadan. Nessa região, Iemanjá era adorada como o orixá padroeiro, e na natureza seu santuário era o rio Yemojá, local sagrado para seus fiéis, onde seu “axé” se assentava e emanava mais fortemente. Dali seu poder se espalhava por toda parte, isto porque o rio, quando desaguava no mar, levava o Axé de Iemanjá para os oceanos e irradiava o poder da deusa por todo o planeta.
Depois, em razão de guerras tribais, esse povo imigrou para Abeokutá, e como não podiam transportar o rio consigo, levaram areia, cristais, seixos e outros objetos sagrados que ele continha em seu leito. Carregaram tudo o que significava suporte do axé (energia, poder) da sua deusa. O axé que transportaram eles transferiram para o leito do rio Ogun (não confundir com o orixá que tem o mesmo nome) que atravessa Abeokutá, o qual, desde então, para eles é a morada local de Iemanjá.
Todos os anos os fiéis africanos recolhem em jarras brancas as águas sagradas desse rio para banhar-se e lavar o lugar onde está o assentamento na terra do axé da deusa. Esse lugar é o templo a ela dedicado na vastidão da natureza. Depois eles vão até uma fonte e enchem jarras; feito isto, seguem em procissão ao encontro de outros fiéis que carregam estátuas de madeira representando Iemanjá como uma linda mulher, e tocam tambores e outros instrumentos de percussão, dançando e saudando aquela que para eles é a deusa-matriz da criação. O cortejo se dirige à cidade e segue abençoando os moradores pelo caminho. O povo nas ruas saúda a deusa com reverência e fervor, enquanto a procissão continua indo em direção ao local onde a esperam as autoridades locais. Para os fiéis devotos de Iemanjá, nesse dia a deusa oferece uma emanação abundante de bênçãos sobre a humanidade.
Iemanjá no Brasil
Quando os iorubás vieram para o novo mundo, Iemanjá se tornou objeto de grande adoração principalmente no Brasil e em Cuba. O culto a Iemanjá é muito forte entre brasileiros e cubanos afro-descendentes ou não, e os adeptos da tradição a reverenciam como a mãe de todos os Orixás, o princípio feminino gerador de vida, da beleza, da abundância e da mutabilidade.
Pode-se dizer que Iemanjá é o orixá mais popular no Brasil. Tanto na África quanto no Brasil e em Cuba, ela representa o poder das águas como berçário da vida. Iemanjá é reverenciada como o generoso e fértil útero do planeta, e também é venerada como a Grande Mãe. O mar é o sagrado colo da deusa, que nutre e embala seus filhos no berço das ondas do mar. Iemanjá é o orixá que atua na natureza como a força que dá forma e anima a matéria, e que transforma energia material em espiritual, e a espiritual em cósmica, e do éter manifesta a vida primordial nas águas oceânicas. Iemanjá tem sob seu comando todos os elementais das águas salgadas.
Aspectos de Iemanjá
Na Bahia, os iniciados no candomblé dizem que há sete aspectos de Iemanjá:
Iemowô, a esposa de Oxalá.
Iamassê, a mãe de Xangô.
Ewá, a mãe do mistério das águas profundas das regiões abissais.
Olossá, a senhora da lagoa africana na qual deságuam os rios de Abeokutá.
Iemanjá Ogunté, casada com Ogun Alagbedé (para alguns ela seria a mãe de Ogun).
Iemanjá Assabá, a fiandeira que tece os fios da trama da vida.
Iemanjá Assessu, a deusa que rege tanto as águas doces como as águas salgadas, uma energia feminina indomável, o aspecto mais misterioso e poderoso desse orixá.
Representação de Iemanjá
A representação desse orixá na África é uma mulher madura, de grande beleza, dotada de formas voluptuosas e seios fartos. Para eles, dos seios generosos de Iemanjá jorra a água da vida. Aqui no Brasil ela é representada como uma linda e jovem mulher com cabelos negros e longos, portando uma tiara na cabeça, com muitas pérolas adornando seus cabelos, mãos e colo. Nas estátuas e gravuras, ela está usando sempre um vestido azul claro salpicado de estrelas e peixinhos dourados; o vestido desenha suas formas sinuosas.
Iemanjá é uma energia feminina portadora de beleza, mistério, amor, sensualidade, poder, generosidade, abundância, transformações, autoridade e respeito. É uma mãe amorosa, zelosa e acolhedora, mas firme e disciplinadora ao mesmo tempo.
O arquétipo
O arquétipo psicológico de Iemanjá é a delicadeza, a sensibilidade, o refinamento, a beleza, a feminilidade, a força interior, a imponência, a renovação e a transformação constante. Iemanjá não tolera desonestidade, maledicência, inveja, mentira, dissimulação e traição. Nessa tradição, os filhos de cada orixá trazem características dos seus deuses protetores. Os adeptos consagrados a Iemanjá são belos e imponentes e também dotados de grande magnetismo e encanto. Eles chamam a atenção de todos por onde passam. Também são francos e verdadeiros, primam pelo caráter reto e abertura para o novo e desconhecido. Sejam homens ou mulheres, têm sempre um comportamento ético, são gentis, delicados no trato, fiéis, amorosos, refinados, dotados de discernimento e autoconfiança; mas, como o mar, surpreendem, podendo mudar de ânimo de repente. Seus filhos se irritam quando contrariados em seus princípios e podem agir intempestivamente.
O dia da semana dedicado a Iemanjá é o sábado. As suas cores são: branco, prata, azul claro e cor de rosa. Suas filhas, quando incorporadas, usam roupas luxuosas nas cores branco, azul claro e prata. Na cabeça portam uma coroa prateada com uma estrela de 5 pontas desenhada em relevo; dessa coroa pende uma franja feita de contas de cristal branco e azul que encobre o rosto da iaô. Na mão direita elas carregam um “abebê” prateado (um tipo de espelho), no qual se olham enquanto dançam movendo os braços e as cadeiras em movimentos ondulatórios, ora lentos ou rápidos e vigorosos. Sua dança é solene, majestosa e graciosa. As oferendas de comida são: milho branco cozido com mel, bolo de arroz com mel. Animais consagrados à deusa: pata, galinha e cabra, todas brancas. No sincretismo ela é identificada com Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora das Candeias, variando de acordo com algumas regiões do país. Dia 2 de fevereiro é o dia do ano dedicado a Iemanjá, quando lindos festejos acontecem em todo o Brasil, especialmente em Salvador, Bahia. No dia 31 de dezembro no Brasil, adeptos ou não costumam levar até o mar oferendas para Iemanjá. Entram no mar e pulam 7 ondas antes de oferecer flores brancas, perfumes, espelhos e adereços à deusa, para que ela os abençoe com saúde, amor e prosperidade. As casas de candomblé e de umbanda se reúnem numa grande festa coletiva para saudar a deusa Iemanjá, a rainha do mar.
A saudação feita a esse orixá é: Odôiá! E Odô-Ífé-Iabá!
O Mito de Iemanjá
São muitas as lendas sobre ela. Dentre tantas, existe uma nos versos de Ifá que diz: Iemanjá era uma princesa muito linda e querida por seu pai, o poderoso senhor das profundezas dos oceanos Olokun. O rei, zeloso de sua filha, queria para ela o melhor. Quando apareceu Orumilá, senhor das adivinhações, como pretendente à sua mão, Olokun concedeu de imediato, e esse foi o primeiro marido dela. Separou-se de Orumilá devido seu temperamento inconstante e depois se casou com Olofin, rei de Ifé, com quem teve 10 filhos. Porém, ela não tem paradeiro, está sempre em transformação, e cansada de sua permanência em Ifé, foge. Olokun, seu pai, sabendo do seu temperamento mutante e voluntarioso, havia entregue a ela, por medida de precaução, uma garrafa com um preparado, recomendando-lhe que, se encontrasse em enorme perigo, quebrasse a garrafa no chão.
Ela, na fuga, encaminhou-se para o entardecer da Terra, o oeste. Olofin-Odudua mandou o seu exército atrás dela. Quando Iemanjá se viu cercada, quebrou a garrafa e um rio criou-se imediatamente, envolvendo-a e carregando-a cuidadosamente até o oceano para junto de seu pai Olokun, de onde ela nunca mais saiu.
Iemanjá dança eternamente nas águas do mar mostrando sua beleza, fascinando homens e mulheres e fornecendo fartura de pesca aos homens do mar. É também a deusa do amor e do encantamento. Como senhora das águas, segue sempre em movimento, transformando e purificando nossas águas interiores, harmonizando nossas emoções e protegendo seus filhos e desenhando novos caminhos no corpo da Mãe Terra pela vida afora.
Homenagem ao Orixá Iemanjá - Pontos Cantados
http://www.youtube.com/watch?v=Zi27Coj6iHA
Fonte:
http://mitologiacomentada.blogspot.com.br/p/ioruba.html