A vida de Maria Santíssima está ligada à de Jesus. Quanto mais a fama de Jesus cresce, depois de sua Ascensão ao céu, mais se deseja conhecer sua infância. E com a infância de Jesus aparece também a Mãe Dele.
Até os 40 anos da nossa era só se falava dos milagres e ressurreição de Jesus Cristo. Da infância praticamente não se falava. Deste modo, o Apóstolo Paulo fala uma única vez de Maria Santíssima, sem citar seu nome.
Falando de Jesus, o Messias, Paulo diz: "Quando chegou a plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, submetido à lei" (Gl 4,4). De acordo com este texto, Maria é a colaboradora escolhida por Deus para que o seu Filho pudesse entrar na história humana.
À medida que aumenta o interesse pela infância de Jesus, a Virgem Maria aparece também, mas sempre em função de Jesus.
O interesse pela infância de Jesus foi se acentuando com o passar do tempo. Assim, quando Marcos escreveu o seu evangelho, antes do ano 70 da nossa era, fala muito pouco de Maria. Ele apenas fala dos parentes de Jesus...
Mas quando Mateus e Lucas escrevem seus evangelhos entre os anos 80 e 90, o interesse pela infância de Jesus era maior, por isso falam dele e também de Maria, a Mãe do Messias.
Mateus traz muitas citações do Antigo Testamento e quer provar que Jesus é o cumprimento de todas as promessas do Antigo Testamento. Jesus é o Emanuel nascido da Virgem (Mt 1,23).
Lucas procurava ir ao encontro do interesse dos cristãos, por isso investiga "tudo cuidadosamente desde de o início" (Lc 1,3). Para escrever certos pormenores da infância de Jesus, Lucas deve ter consultado a Virgem Maria, pois somente ela poderia conhecê-los. Tanto Mateus como Lucas, descrevem a Infância de Jesus, por isso, não poderiam deixar de falar da Mãe Dele.
Existe uma tradição de que Maria teria feito sua passagem para a outra vida em Jerusalém. Lá, aliás existe a Igreja da Dormição de Maria. situada no monte Sião, que recorda o fato. Mas o provável, porém é que, devido às perseguições da Palestina, Nossa Senhora tenha realmente acompanhado João a Éfeso, onde passou seus últimos dias de vida.
A vidente mística alemã Ana Catarina Emmenrick (1774-1824), que esteve praticamente toda a vida no leito, paralisada, sem nunca sair de casa por causa de suas condições físicas, vivendo longos anos somente tomando água, indicou o lugar exato onde a Virgem Maria se refugiou no Egito, fugindo de Herodes, e, também onde viveu os seus últimos anos em Éfeso, segundo as declarações de Nossa Senhora à vidente.
O Padre Gouyet, um tanto incrédulo, foi pesquisar "in loco" e, para sua surpresa, tanto no Egito como em Éfeso, encontrou tudo tal e qual a vidente tinha descrito.
Segundo esta, Nossa Senhora, depois da ascenssão de Jesus, teria vivido três anos em Jerusalém, três anos em Betânia e nove anos em Éfeso, a três léguas e meia da cidade.
O Padre encontrou a casa feita de pedra, com duas salas, no lugar indicado e como fora descrita pela vidente. A descoberta aconteceu em 1881. Os cristãos de lá a chamavam de Casa da Virgem, da toda pura.
(Texto extraído do Livro "Aparições de Nossa Senhora" - Autor: Ernestro N. Roman - Ed. Paulus)
O período vivido em Betânia e Éfeso
Após a separação dos discípulos, que se dispersaram por lugares diferentes, para a difusão da Boa Nova, Maria retirou-se para Betânia*, na Batanéia, onde alguns parentes mais próximos a esperavam com especial carinho. *Betânia (Bethabara) ficava na parte superior do Jordão.
Os anos começaram a rolar, silenciosos e tristes, para a angustiada saudade de seu coração.
A esse tempo, o filho de Zebedeu, tendo presentes as observações que o Mestre lhe fizera da cruz, surgiu na Batanéia, oferecendo àquele espírito saudoso de mãe o refúgio amoroso de sua proteção. Maria aceitou o oferecimento, com satisfação imensa.
E João lhe contou a sua nova vida. Instalara-se definitivamente em Éfeso, onde as idéias cristãs ganhavam terreno entre almas devotadas e sinceras. Nunca olvidara as recomendações do Senhor e, no íntimo, guardava aquele título de filiação, como das mais altas expressões de amor universal para com aquela que recebera o Mestre nos braços veneráveis e carinhosos.
Maria escutava-lhe as confidências, num misto de reconhecimento e de ventura.
João continuava a expor-lhe os seus planos mais insignificantes. Leva-la-ia consigo, andariam ambos na mesma associação de interesses espirituais. Seria seu filho desvelado, enquanto receberia de sua alma generosa a ternura maternal, nos trabalhos do Evangelho. Demorara-se a vir, explicava o filho de Zebedeu, porque lhe faltava uma choupana, onde se pudessem abrigar, entretanto, um dos membros da família real de Adiabene, convertido ao amor do Cristo, lhe doara uma casinha pobre, ao sul de Éfeso, distando três léguas aproximadamente da cidade. A habitação simples e pobre demorava num promontório, de onde se avistava o mar. No alto da pequena colina, distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se reuniriam ambos para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa-vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal.
Maria aceitou alegremente.
Dentro de breve tempo, instalaram-se no seio amigo da Natureza, em frente do oceano. Éfeso ficava pouco distante, porém, todas as adjacências se povoaram de novos núcleos de habitações alegres e modestas. A casa de João, ao cabo de algumas semanas, se transformou num ponto de assembléias adoráveis, onde as recordações do Messias eram cultuadas por espíritos humildes e sinceros.
Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. Vezes inúmeras, a reunião somente terminava noite alta, quando as estrelas tinham maior brilho. E não foi só. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sítio singelo e generoso. A notícia de que Maria descansava, agora, entre eles, espalhara um clarão de esperança por todos os sofredores. Ao passo que João pregava na cidade as verdades de Deus, ela atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam exibindo-lhe suas úlceras e necessidades.
Mãe Santíssima
Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de “Casa da Santíssima”.
O fato tivera origem em certa ocasião, quando um miserável leproso, depois de aliviado em suas chagas, lhe osculou as mãos, reconhecidamente murmurando:
- “Senhora, soia a mãe de nosso Mestre e nossa Mãe Santíssima!”.
A tradição criou raízes em todos os espíritos. Quem não lhe devia o favor de uma palavra maternal nos momentos mais duros? E João consolidava o conceito, acentuando que o mundo lhe seria eternamente grato, pois fôra pela sua grandeza espiritual que o Emissário de Deus pudera penetrar a atmosfera escura e pestilenta do mundo para balsamizar os sofrimentos da criatura. Na sua humildade sincera, Maria se esquivava às homenagens afetuosas dos discípulos de Jesus, mas aquela confiança filial com que lhe reclamavam a presença era para a sua alma um brando e delicioso tesouro do coração. O título de maternidade fazia vibrar em seu espírito os cânticos mais doces. Diariamente, acorriam os desamparados, suplicando a sua assistência espiritual. Eram velhos trôpegos e desenganados do mundo, que lhe vinham ouvir as palavras confortadoras e afetuosas, enfermos que invocavam a sua proteção, mães infortunadas que pediam a bênção de seu carinho.
- “Minha mãe – dizia um dos aflitos – como poderei vencer as minhas dificuldades? Sinto-me abandonado na estrada escura da vida...”.
Maria lhe enviava o olhar amoroso da sua bondade, deixando nele transparecer toda a dedicação enternecida de seu espírito maternal.
- “Isso também passa! – dizia ela, carinhosamente – só o Reino de Deus é bastante forte para nunca passar de nossas almas, como eterna realização do amor celestial”.
Seus conceitos abrandavam a dor dos mais desesperados, desanuviavam o pensamento obscuro dos mais acabrunhados.
(Texto extraído do Livro "Boa Nova" - Humberto de Campos/Francisco Cândido Xavier)
O Evangelho de Maria
Com delicadeza extrema, Paulo visitou a Mãe de Jesus na sua casinha singela, que dava para o mar. Impressionou-se fortemente com a humildade daquela criatura simples e amorosa, que mais se assemelhava a um anjo vestido de mulher. Paulo de Tarso, interessou-se pelas suas narrativas cariciosas a respeito da noite do nascimento do Mestre, gravou no íntimo suas divinas impressões e prometeu voltar na primeira oportunidade a fim de recolher os dados indispensáveis ao Evangelho que pretendia escrever para os cristão do futuro. Maria colocou-se a sua disposição, com grande alegria.
O projeto deste Evangelho continuou a ser alimentado, mas dificultado pelas viagens constantes do Apóstolo.
Estando preso na Cesaréia, Paulo resolveu encarregar Lucas da redação.
A este tempo, o ex-doutor de Jerusalém, chamou a atenção de Lucas para o velho projeto de escrever uma biografia de Jesus, valendo-se das informações de Maria, lamentou não poder ir a Éfeso, incumbindo-o desse trabalho que reputava de capital importância para os adéptos do Cristianismo. O médico amigo satisfez-lhe integralmente o desejo, legando á posteridade o precioso relato da vida do Mestre, rico de luzes e esperanças divinas.
Despedidas de Paulo
Paulo dirige-se a Jerusalém, onde será preso, segundo predições de vozes amigas, porém o corajoso Apóstolo, segue resoluto para o testemunho.
Resolve portanto fazer a viagem em etapas, despedindo-se das igrejas que tanto amava.
Em todas as prais eram jestos comovedores, adeuses amargurosos. Em Éfeso, porém, a cena foi muito mais triste porque o Apóstolo solicitara o comparecimento dos anciãos e dos amigos, para falar-lhes particularmente ao coração. Não desejava desembarcar, no intuito de prevenir novos conflitos que lhe retardassem a marcha, mas em testemunho de amor e reconhecimento, a comunidade em peso lhe foi ao ancontro, sensibilizando-lhe a alma afetuosa.
A prória Maria, avançada em anos, acorrera de longe em companhia de João e outros discípulos para levar uma palavra de amor ao paladino intimorato do Evangelho de seu Filho. Os anciãos receberam-no com ardorosas demonstrações de amizade, as crianças ofereciam-lhe merendas e flores.
Entretanto, comovido, Paulo de Tarso prelecionou em despedida, e quando afirmou o pressentimento de que não mais ali voltaria em corpo mortal, houve grandes explosões de amargura entre os efésios.
Como que tocados pela grandeza espiritual daquele momento, quase todos se ajoelharam no tapete branco da praia e pediram a Deus que protegesse o devotado batalhador do Cristo. Recebendo tão belas manifestações de carinho, o ex-rabino abraçou, um por um, de olhos molhados. A maioria atirava-se-lhe nos braços amorosos, soluçando, beijando-lhe as mãos, calosas e rudes. Abraçando por último a Mãe Santíssima, Paulo tomou-lhe a destra e nela depôs um beijo de ternura filial.
(Texto extraído do Livro "Paulo e Estevão" - Emmanuel/Francisco Cândido Xavier)
Indo ao Céu
A igreja de Éfeso exigia de João a mais alta expressão de sacrifício pessoal, pelo que, com o decorrer do tempo, quase sempre Maria estava só, quando a legião humilde dos necessitados descia o promontório desataviado, rumo aos lares mais confortados e felizes.
Os dias e as semanas, os meses e os anos passaram incessantes, trazendo-lhe as lembranças mais ternas.
Quando sereno e azulado, o mar lhe fazia voltar à memória o Tiberíades distante.
Surpreendia no ar aqueles perfumes vagos que enchiam a alma da tarde, quando seu filho, de quem nem um instante se esquecia, reunindo os discípulos amados, transmitia ao coração do povo as louçanias da Boa Nova.
A velhice não lhe acarretara nem cansaços nem amarguras. A certeza da proteção divina lhe proporcionava ininterrupto consolo.
Como quem transpõe o dia em labores honestos e proveitosos, seu coração experimentava grato repouso, iluminado pelo luar da esperança e pelas estrelas fulgurantes da crença imorredoura.
Suas meditações eram suaves colóquios com as reminiscências do filho muito amado.
Súbito recebeu notícias de que um período de dolorosas perseguições se havia aberto para todos os que fossem fieis à doutrina do seu Jesus divino. Alguns cristãos banidos de Roma traziam a Éfeso as tristes informações. Em obediência aos éditos mais injustos, escravizavam-se os seguidores do Cristo, destruiam-se-lhes os lares, metiam-nos a ferros nas prisões. Falava-se de festas públicas, em que seus corpos eram dados como alimentos a feras insaciáveis, em horrendos espetáculos.
Então, num crepúsculo estrelado, Maria entregou-se às orações, como de costume, pedindo a Deus por todos aqueles que se encontrassem em angústias do coração, por amor de seu filho.
Embora a soledade do ambiente, não se sentia só: uma força singular lhe banhava a alma toda. Aragens suaves sopravam do oceano, espalhando os aromas da noite que se povoava de astros amigos e afetuosos e, em poucos minutos, a lua plena participava, igualmente, desse concerto de harmonia e de luz.
Enlevada nas suas meditações, Maria viu aproximar-se o vulto de um pedinte.
- Minha mãe – exclamou o recém-chegado, como tantos outros que recorriam ao seu carinho -, venho fazer-te companhia e receber tua bênção.
Maternalmente, ele o convidou a entrar, impressionada com aquela voz que lhe inspirava profunda simpatia. O peregrino lhe falou do céu, confortando-a delicadamente. Comentou as bem-aventuranças divinas que aguardam a todos os devotados e sinceros filhos de Deus, dando a entender que lhe compreendia as mais ternas saudades do coração. Maria sentiu-se empolgada por tocante surpresa. Que mendigo seria aquele que lhe acalmava as dores secretas da alma saudosa, com bálsamos tão dulçorosos? Nenhum lhe surgira até então para dar, era sempre para pedir alguma coisa. No entanto, aquele viandante desconhecido lhe derramava no íntimo as mais santas consolações. Onde ouvira noutros tempos aquela voz meiga e carinhosa? Que emoções eram aquelas que lhe faziam pulsar o coração de tanta carícia? Seus olhos se umedeceram de ventura, sem que conseguisse explicar a razão de sua terna emotividade.
Foi quando o hóspede anônimo lhe estendeu as mãos generosas e lhe falou com profundo acento de amor:
- “Minha mãe, vem aos meus braços!”.
Nesse instante, fitou as mãos nobres que se lhe ofereciam, num gesto da mais bela ternura. Tomada de comoção profunda, viu nelas duas chagas, como as que seu filho revelava na cruz e, instintivamente, dirigindo o olhar ansioso para oa pés do peregrino amigo, divisou também aí as úlceras causadas pelos cravos do suplício. Não pôde mais. Compreendendo a visita amorosa que Deus lhe enviava ao coração, bradou com infinita alegria:
- “Meu filho! Meu filho! As úlceras que te fizeram!...”.
E precipitando-se para ele, como mãe carinhosa e desvelada, quis certificar-se, tocando a ferida que lhe fora produzida pelo último lançaço, perto do coração. Suas mãos ternas e solícitas o abraçaram na sombra visitada pelo luar, procurando sofregamente a úlcera que tantas lágrimas lhe provocara ao carinho maternal. A chaga lateral também lá estava, sob a carícia de suas mãos. Não conseguiu dominar o seu intenso júbilo. Num ímpeto de amor, fez um movimento para se ajoelhar. Queria abraçar-se aos pés do seu Jesus e osculá-los com ternura. Ele, porém, levantando-a, cercado de um halo de luz celestial, se lhe ajoelhou aos pés e, beijando-lhe as mãos, disse em carinhoso transporte:
- “Sim, minha mãe, sou eu!... Venho buscar-te, pois meu Pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos Anjos...”.
Maria cambaleou, tomada de inexprimível ventura. Queria dizer da sua felicidade, manifestar seu agradecimento a Deus, mas o corpo como que se lhe paralisara, enquanto aos seus ouvidos chegavam os ecos suaves da saudação do Anjo, qual se a entoassem mil vozes cariciosas, por entre as harmonias do céu.
No outro dia, dois portadores humildes desciam a Éfeso, de onde regressaram com João, para assistir aos últimos instantes daquela que lhe era a devotada Mãe Santíssima.
Maria já não falava. Numa inolvidável expressão de serenidade, por longas horas ainda esperou a ruptura dos derradeiros laços que a prendiam à vida material.
(Texto extraído do Livro "Boa Nova" - Humberto de Campos/Francisco Cândido Xavier)
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